O Paraná cresceu de forma não uniforme durante o século passado e o desenvolvimento ficou centrado em poucas regiões, deixando boa parte do território sem investimento, o que gerou pobreza e miséria. Os bons rendimentos se concentram – com exceção de algumas cidades – em regiões metropolitanas e polos industriais, áreas que receberam investimentos governamentais em infraestrutura e atraíram empresas, indústrias e comércio.
Curitiba – onde os moradores têm ganhos médios de R$ 1,5 mil – lidera a lista, seguida de Maringá e Londrina, das cidades com rendas mais altas. Elas são a exceção no estado e puxam a renda média paranaense para cima. Na outra ponta da lista há municípios como Laranjal e Doutor Ulysses, onde a renda média da população não passa de R$ 325.
Não por acaso as duas cidades estão localizadas nas regiões mais miseráveis do estado, respectivamente Centro-Sul e Vale da Ribeira. Além de reunir a pobreza, elas concentram a falta de arranjos produtivos locais e infraestrutura básica, como acesso à luz elétrica e ao esgotamento sanitário.
O economista e doutor pela Universidade de Londres, Fabio Doria Scatolin, explica que a alta renda de municípios como Curitiba acaba criando um cenário fictício no estado. As regiões mais desenvolvidas criaram um tipo de “economia de aglomeração” dinâmica, atraindo, por exemplo, um moderno setor de serviços e indústria, que gera mais prosperidade e ciclos de crescimento.
Para Jucimeri há razões históricas para a desigualdade do estado. “A pobreza no Paraná pode ser explicada pelo latifúndio, baixa atividade de instituições e baixa oferta e qualidade de serviços públicos.” As regiões privilegiadas do estado em relação a investimentos são polos de fluxo migratório e atraem migrantes. Por outro lado, explica a assistente social, “as cidades de ‘saída’ dos fluxos migratórios acabam ficando à margem e geram ciclos de pobreza, que se repetem em função da falta de políticas de qualidade, como educação e saúde.”
Segundo especialistas, a alternativa é identificar a vocação dos municípios. Se o investimento for feito de forma regionalizada é possível que os grandes polos continuem crescendo sem desprezar as demais cidades. Apesar das potencialidades, porém, o economista Fabio Doria Scatolin é cético. Ele diz acreditar que é difícil mudar a lógica do desenvolvimento justamente porque a aglomeração dos polos oferece facilidades, como mais oferta de mão de obra, barateamento de serviços e logística. Por isso é tão difícil que uma grande empresa se instale no Vale da Ribeira. Segundo o economista, a tendência de migração para os locais mais desenvolvidos ainda deve continuar.
Problema é crônico no Vale do Ribeira
A pobreza crônica no Vale da Ribeira faz com que cidades da região, como Doutor Ulysses, tenham 22,5% da população vivendo na miséria e 10% sem renda alguma. Em Tunas do Paraná, outro município da região, Romildo dos Santos trabalha com extração de pínus e sustenta a mulher e três filhos com um salário mínimo. Nas horas vagas faz “bicos” para tentar complementar o salário. José Porfilho, 35 anos, trabalha como mecânico e faz parte das estatísticas que apontam Cerro Azul, também no Vale do Ribeira, como um dos municípios mais pobres do estado, com 15% da população vivendo em pobreza absoluta. Ele, a mulher Marilene e os filhos José, 10 anos, Jéssica, 8 anos, e Jaqueline, 6 anos, vivem com menos de um salário mínimo por mês. Para complementar a escassa renda do mecânico, a família trabalha com agricultura de subsistência e vende uma pequena parte da produção.
Fonte: Gazeta do Povo
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