As salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média de 55 países avaliados em estudo sobre o comportamento dos alunos
Os estudantes brasileiros passam menos tempo em sala de aula do que os alunos de outros países e o período muitas vezes é mal aproveitado por causa da indisciplina. Um relatório divulgado neste ano pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que as salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média dos outros países avaliados.
O estudo, feito com dados de 2009 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), aponta que 67% dos alunos brasileiros entrevistados disseram que seus professores “nunca ou quase nunca” têm de esperar um longo período até que a classe se acalme para dar prosseguimento à aula. Entre os 65 países participantes da pesquisa, a média ficou em 72%.
Os países asiáticos são os mais bem colocados no estudo: no Japão, 93% dos estudantes disseram que os professores “nunca ou quase nunca” precisam esperar um período extenso para prosseguir com a aula. Em segundo lugar no ranking dos mais comportados aparece o Casaquistão, com 91%, seguido por Xangai (China), com 90%, e Hong Kong (China), com 89%. Os países onde os professores precisam esperar com mais frequência para que a turma se acalme são Finlândia e Holanda (63%), Argentina e Grécia (62%). O estudo foi feito com alunos de 15 anos de idade.
Cautela
A psicopedagoga Maria Sílvia Bacila Winkeler, professora do departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), considera que os resultados da pesquisa devem ser vistos com cautela, pois a noção de tempo é muito subjetiva. Para a coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Márcia Sigrist Malavassi, também seria necessário verificar o que os entrevistados compreendem por indisciplina.
Embora as salas de aula da Finlândia estejam entre as mais indisciplinadas, por exemplo, o país foi o terceiro com a maior média em Leitura no Pisa 2009. Dos 65 países avaliados, a Finlândia também ficou entre os primeiros colocados em Matemática e Ciências, as outras duas áreas analisadas pelo Pisa. “Alguma coisa acontece na indisciplina deles que não está prejudicando o desempenho dos filandeses”, afirma.
Maria Sílvia explica que, para evitar a indisciplina, o aluno deve estar disposto a permanecer no ambiente escolar e a aprender, situação que depende do planejamento das aulas, das condições de trabalho do professor, do número de turmas com que o docente trabalha e da quantidade de alunos por classe, entre outros elementos. A forma de organização do tempo, com a fragmentação do ensino em aulas de 50 minutos, também pode contribuir com a indisciplina, já que é preciso acalmar as turmas após as transições. Além disso, o período é considerado curto para o desenvolvimento de determinados conteúdos. “No Brasil, há a necessidade de escolas em período integral. Fica difícil estudar conteúdos de disciplinas diferentes em tempo parcial”, avalia Maria Márcia, da Unicamp.
Carga horária
No Brasil, a carga horária mínima para os ensinos infantil, fundamental e médio é de 800 horas por ano, com 200 dias letivos. Um projeto de lei aprovado recentemente pela Comissão de Educação do Senado (PLS 388/2007) prevê que a jornada passe para 960 horas anuais. Na China, país com as maiores notas no Pisa, o ano letivo tem 245 dias, com 1.050 horas de aula por ano. Mas, segundo o conselheiro cultural da Embaixada da China no Brasil, Shu Jianping, o tempo também é fragmentado, com aulas de aproximadamente 40 minutos. No Japão, o ano letivo tem 950 horas.
Para Tânia Maria Braga Garcia, professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino e do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não adianta ampliar as horas de trabalho se outras condições não forem consideradas. “Em alguns países, o tempo é praticamente o mesmo [do Brasil], mas a forma de organização das atividades, o modo de funcionamento da escola e as condições de trabalho do professor, incluindo sua formação permanente, seus horários, concentração de atividades de trabalho em uma mesma escola e seu salário, são elementos que mudam a configuração do ensino”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo.
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